RESENHA DE SCYLLA: PAIXÃO, MATANÇA E VAZIO — LETRA MÁGICA

14:47

Em uma nova experiência — fantástica, diga-se de passagem — patrocinada pelo Café com Letra e também proporcionada pelo blog C.L.A.N., encontrei outra história com magnitude incrível e capacidade de expressão inimaginável, seja pela poesia ou a prosa.

O grupo Café com Letra possui estórias com uma imensidão de possibilidades, seja na estética ou no gênero. Este recinto, aos poucos, irá abarcar espaços e preencher vazios, como o vazio que tende a ser preenchido pela protagonista de nossa narrativa de hoje. 

A trama de hoje pertence ao autor Marcondes Pereira com sua oneshot chamada Scylla: Paixão, Matança e Vazio, esta tem uma sinopse simples, ao mesmo tempo, elaborada poeticamente para instigar o leitor e trazer voz à personagem em destaque, Scylla, ou, talvez, as bestas que lhe habitam e que a são. 


Para começar com o sabor poético das obras gregas clássicas, a trama traz consigo um subtítulo muito peculiar e que se move tanto dentro da trama/ enredo quanto também dentro da duplicidade animalesca e humana que a personagem principal possui. O subtítulo já afirma a ligação com a personagem quando diz que é, em sua própria essência do verbo ser. 

Eu sou a tragicomédia.

Tragicomédia, para os que não sabem, é uma duplicidade de gênero (alguns autores o observam como subgênero) que envolve tanto a tragédia quanto a comédia, ambos os gêneros já previstos e vistos por Aristóteles na antiguidade clássica. O autor dizia que a métrica, canto e ritmo de ambos os gêneros eram semelhantes, por conta disto, já era possível – aos olhos aristotélicos – uma mescla entre eles que fariam tanto as lágrimas quanto os risos. Este gênero, de fato, ao menos, pelo que se sabe, só foi realmente consumado em Roma por Plauto — ainda que tenha existido sim na Grécia.

Após explicar o termo, entendemos a ambiguidade dele em diversos aspectos e momentos durante o conto (o que é fantástico), estes englobam: a personagem e sua ramificação entre mulher apaixonada e criatura brutal; o enredo e sua duplicidade entre a docilidade inicial e o assassinato mordaz, por fim, a narrativa em si (o que trouxe o tom poético e duplo, não somente por brincar com prosa e poesia, mas também por brincar com a sonoridade das palavras). 

O autor esbanja talento na prosa e na poesia, duplicidade do conto mencionada no outro parágrafo, no entanto, ainda que ambas as partes sejam líricas, suaves e com um ritmo doce, elas se graduam e tornam-se violentas enquanto se embebedam da trama e esta é a miscigenação primária — a meu ver — que o conto abarca e demonstra sua tragicomédia. Claro que há citações célebres de estéticas literárias como, por exemplo, o barroco, este que marca bem a ambiguidade de sensações maniqueístas (a sensação, mais fascinante, para mim, como aquela que resenha pensando no próprio embate com a obra, é a do corpo monstruoso que tende a alimentar-se contra a alma de ninfa tanto desejada quanto desejosa de amor). Aliás, algo que o próprio autor assinala: 

Nosso beijo é barroco, pois é tímido e recatado e também ousado, esfomeado e brutal.

A cena em si, sem dar muitos spoilers, é o ponto chave de quem é Scylla e todos os aspectos que a personagem apresenta, seja na aparência ou na sua psique. Esta cena é fatal, não somente para o leitor que estará vidrado lendo o conto, mas também para os personagens envolvidos — ou não — na cena. Afinal, ela é a tragicomédia e irá levar você a amá-la ou odiá-la, seja como deusa (inspiradora) ou ninfa. 

Mulher de face bela e adorável
Ninfa sacra de poesia inenarrável
(...)
Agora é um monstro de feiúra derradeira


Atenção: O conto vem com glossário mitológico logo nas notas, por conta disto, não me estendi na resenha para explicar os termos que coexistem na obra. Caso exista dúvida, deixe nos comentários que explicarei a mitologia um pouco mais a fundo do que está lá, embora não precise para a compreensão do conto (com exceção da história mítica de Scylla, um pouco mudada — pelo que parece — em relação à vertente conhecida por mim). 

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2 comentários

  1. Oi, tudo bem
    Que resenha maravilhosa, extremamente completa e me fez ter curiosidade sobre esse conto que eu não conhecia.

    Beijos da Lua!
    Cantinho da Lua

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  2. Que bacana não conhecia o livro, gostei bastante da resenha.

    Um beijo,

    www.purestyle.com.br

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Café com Letra | Mochaccino #2

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